Earth One é o pontapé inicial de todo um novo universo dentro da DC. Trata-se de uma novaTerra Um, na qual a editora pretende iniciar a cronologia dos seus principais super-heróis do zero, com atrativos para novos leitores. A graphic novel não é inovadora apenas por isso. Ela inaugura um novo modelo de publicação, com a HQ saindo diretamente em formato encadernado, sem passar por uma revista mensal. Assim, a editora pretende entregar logo o material final, com começo, meio e fim, além de ter um valor agregado mais caro do que um gibi mensal.
Para recriar o seu principal personagem, a DC convocou o roteirista J. Michael Straczynski, recém-chegado na editora e com uma longa trajetória na Marvel, principalmente no Homem-Aranha. Para a arte foi chamado Shane Davis, que trabalha na casa do Homem de Aço há uns cinco anos. Para eles foi dado uma página em branco, com poucas diretrizes para a criação da nova versão do Azulão.
De certa forma, dá pra dizer que o resultado conseguido por Straczynski é bem polêmico, dividindo a opinião dos críticos estadunidenses. Quando li a história, pude perceber e entender todas estas opiniões. Elas acontecem pelo simples fato de Earth One conseguir ser, ao mesmo tempo, boa e ruim, dependendo do ponto de vista adotado.
Não entendeu? Vou explicar ambos os lados.
Straczynski recriou o Superman dentro de sua visão. Eu diria até mais. Straczynski recriou o Superman dentro da visão Marvel. Se antes o Homem de Aço era famoso por seu ar austero, de quem sempre sabe o que está fazendo e de quem é superior à maioria, o novo Super da Terra Um vai no sentido oposto. O Clark Kent ao que somos apresentados é um deslocado. Um garoto que nunca encontrou seu lugar na escola, sofrendo bullying sem poder revidar, para não revelar seus poderes.
Ao crescer, Clark continua renegando o poder que tem. Mesmo com os pedidos dos pais para fazer algo de bom pelas pessoas, o jovem aprende a se integrar com as outras pessoas, mesmo sem ser exatamente como elas. Sendo assim, Clark vai para Metrópolis para buscar um espaço na sociedade, experimentando várias profissões e ocupações, nas quais poderá fazer algo pelos outros como um cidadão comum. Infelizmente, Clark não se sente bem em nenhuma delas. Na realidade, ele só passa a aceitar seu destino como super-herói quando é colocado na parede.
Ou seja, temos um personagem que se torna herói não por vocação. Ele não se prepara para isso. Simplesmente acontece, por conta dos poderes que ele tem, que trazem uma responsabilidade que, inicialmente, não é aceita. Não soa familiar?
Como Clark vai para Metrópolis mais cedo, sem ir viajar pelo mundo, como é normalmente contato na versão padrão da DC, ele se torna o Superman extremamente jovem, com 20 anos.
Por tudo isso, Earth One é uma história do Superman sem o Superman. Os princípios básicos do personagem não estão lá. Ok, ele ainda é um extraterrestre vindo de Krypton, mas todo o resto está diferente. Quem é fã tradicional vai odiar.
Mesmo assim, não há como negar que a história é bem contada. A construção do novo Super feita pelo roteirista é bem estruturada, com ótimas sequências de jogo de futebol americano e de luta. Além disso, Straczynski se vale do seu conhecimento como jornalista profissional para tornar verossímil a redação do Planeta Diário, algo raro, diga-se.
A arte de Shane Davis também está bem interessante, principalmente nas modificações pontuais no uniforme do Superman. Porém, o mesmo David acaba trazendo um cabelo extremamente moderninho para Clark Kent, mais ao estilo Justin Bieber, para deixar os fãs mais tradicionais bem irritados.
Também há problemas na HQ que são vistos até por quem gostou da história. Um deles é a motivação do vilão, que é um pouco estranha, mas não chega a comprometer. O pior, na realidade, é o fato de Clark Kent chegar a Metrópolis e ir até a redação do Planeta Diário sem óculos. Depois, ele se torna o Azulão e chega ao mesmo jornal de óculos. Vai me dizer que ninguém percebe que é a mesma pessoa? Não que os óculos sejam uma máscara efetiva, mas…
Na parte editorial, a DC faz um bom trabalho. O encadernado de capa dura, que utilizei para este review, traz uma textura na capa, além de detalhe envernizado no S no peito do Azulão. Há ainda uma matéria especial do Planeta Diário e sketches do Shane Davis como extras.
Depois de tantos prós e contras, dá pra dizer que, se você desencanar (ou nem mesmo for fã) do Superman tradicional, com certeza irá gostar de Earth One. Agora, se você gosta do personagem clássico, passe longe do álbum.
Caso você seja daqueles que odiou a graphic novel, é bom ressaltar que o novo Homem de Aço não irá para o limbo. Ao contrário, já que as vendas do primeiro encadernado foram tão boas que a DC tirou Straczynski das outras revistas mensais para se dedicar exclusivamente a Earth One.
Eu, que sou fã do Azulão, mas tenho a mente aberta para novas concepções, digo que gostei e não gostei ao mesmo tempo, além de já estar esperando a continuação da história com uma ansiedade. Pode isso, Arnaldo!?
Superman: Earth One
Roteiros: J. Michael Straczynski
Lápis: Shane Davis
Arte-final: Sandra Hope
Cores: Barbara Ciardo
Páginas: 136 (formato americano, capa dura)
Preço: US$ 19,99
Editora: DC Comics
Fonte Matéria: http://judao.mtv.uol.com.br/livros-hqs/superman-earth-one/
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